Não é sobre fotografia, é sobre vida.
No dia 15 de outubro de 2015, postei o seguinte texto na minha página no facebook:
“Fernando e Miguel chegaram ao mundo no dia 15 de outubro de 2014, 1h20 e 1h25, pesando 1,590 kg e 1,290 kg, 30 semanas de gestação (início do 7º mês). Logo que nasceram fomos separados. Eu fui pra UTI de um hospital geral e eles pra UTI Neo da maternidade. Fiquei 5 dias na UTI, Nando, 28 dias e o Guel, 70 dias, sendo transferido com 10 dias de vida para outra UTI, para realizar uma cirurgia. No final das contas, foram 3 cirurgias, mais umprocedimento de emergência na incubadora, 45 dias de infecção generalizada e mais uns pingados (e QUE pingados) pra contar.
Nando com 3 dias de vida.
Guel no dia da sua alta.
Miguel precisou passar pelas cirurgias por conta de empedramento de mecônio no intestino (íleo meconial), total de 3 e mais realização de dreno na incubadora, 45 dias de infecção generalizada, rompimento de cirurgia devido a infecção, colostomia, hemorragia cerebral, paradas respiratórias, convulsão, politransfundido (inúmeras transfusões de sangue), sobrecarga medicamentosa fígado e rins.
Ainda não falei sobre a Nina, nossa cachorrinha que se foi há pouco tempo e deixou ensinamentos de um amor puro e incondicional. Depois de sua partida, mantemos o seu cantinho do jeito que sempre arrumávamos para ela: em cima da colcha da cama, o travesseiro, as bolinhas, ao lado da nossa cama. Tudo do jeito que ela gostava. Pedi ao Dani que retratasse este lugar. Não importava em que momento do dia, mas era fundamental para nós ter algum registro de que ela faz parte da nossa família, do nosso pacto. Já vi esta foto e chorei por algum tempo. Posso dizer que esta foto é o meu tesouro precioso.
Nossa caminhada foi de muita luta, mas de luta MESMO. Luta pela vida. Para gerar vida. Sobreviver a vida. Tínhamos planos de viver uma gestação, que demorou a chegar, com saúde e tranquilidade. Não foi do jeito que queríamos, mas estamos aqui. Não tenho fotografia da gestação do jeito que sonhei. Não peguei meus filhos no colo quando nasceram e, mesmo tendo leite, não pude amamentá-los quando tinham fome porque SOBREVIVER era mais importante que a minha vontade de ser mãe naquele momento. Fomos separados para lutar pela vida. Fui mãe quando me vi em uma UTI e meus filhos em outra UTI. Lutamos pela vida, os 3 – eu, Miguel e Fernando. O Bruno, marido e pai, um guerreiro por suportar tudo aquilo. Meus filhos nasceram para me salvar e eu vivo para que eles respirem vida a todo momento. Tão pequenos e já guerreiros...heróis! Aquilo não podia passar em branco. Precisávamos tirar uma lição de tudo aquilo.
4 anos de frustração, lágrimas e fé para realizar O sonho. 72 dias de UTI que deixaram marcas profundas e muitos ensinamentos. 72 dias vivendo um minuto como se fosse o último respiro. No fim do dia 16 de dezembro de 2014, fim de uma parte dos 72 dias, firmamos um pacto. Um pacto pela vida, de ser grato por ela. Nada de pacto material, planos, viagens... Um pacto simples: nenhum dia seria sem um sorriso, sem olhar para trás e ser grato pelas adversidades. Claro, agradecer por termos passado por tudo aquilo porque o nosso planejamento não foi do jeito que queríamos, mas estamos aqui. Nova chance de viver mais uma vez – e de forma diferente.
É aí que o Daniel entra. Ele entrou em nossas vidas da maneira mais inusitada possível (graças a um texto que postei sobre o 1º ano dos meus filhos e um podcast para fotógrafos) e vai permanecer da maneira mais calorosa e acolhedora. Como esperamos a sua chegada em nosso lar. Recebê-lo foi uma alegria infinita. Que cura o Dani trouxe para minha vida preenchendo vários vazios das marcas profundas deixadas pelos 72 dias. Me emociono a todo instante pensando no quão transformado foi a experiência de ter o nosso dia registrado. Que bom será ver estas fotos daqui 10,20,30 anos e falar: “que tempo bom, que saudades. Obrigado fotografia. Obrigado Daniel por ter registrado os sorrisos, as birras, os choros, as brincadeiras, a correria, o dia sem pose, a vida como ela era. Que tempo bom, deixou saudades”. Já me vejo mostrando para estas fotos para os netos. Melhor, já vejo meus meninos casando e o Dani fotografando este dia especial para nós. Mas, o mais importante é que este registro tem o sentimento de quem mergulhou profundamente em nossa história e compartilhou desta emoção pela lente. Que sensibilidade para retratar histórias e emoções!
A vida é simples. Não complique. Não determine a fotografia somente para ocasiões especiais. A vida é especial a cada minuto e merece o devido registro. Presenteie seus filhos com memórias vivas, do seu amor por eles. Como diz o Daniel “qual o valor dessas fotos para eles e a futura geração”. Eles serão muito gratos por isso e nós seremos eternamente gratos pelo destino ter colocado o Dani em nossas vidas para registrar o nosso pacto.
E não se esqueça: faça pactos pela vida, não importa como seja ela.
Família Machado Torrens
Obs.: Dani, você já é da nossa família. Seja bem vindo sempre!